Caminho para uma vida mais pascal
A Quaresma é um tempo forte para caminharmos para uma vida mais pascal. A liturgia deste tempo, prevista para acolher os catecúmenos na comunidade cristã, constitui um grande apelo para a redescoberta do significado do sacramento do batismo e suas implicações na vida quotidiana. Percorrer este caminho de quarenta dias com a Igreja, favorecerá o reencontro com Cristo pascal e o assumir de uma identidade cristã mais purificada, alegre e comprometida.
Este itinerário quaresmal, iluminado pela Palavra de Deus, começa por nos confrontar com a nossa fragilidade humana (Cinzas) e com as tentações que afetam a nossa existência (1º domingo), para, depois, nos convidar a subir com Cristo até à nossa vocação divina (2ª domingo). Nas etapas seguintes vai-se-nos revelando o verdadeiro rosto de Jesus Cristo como a Água viva que sacia a nossa sede (3º domingo), a Luz que ilumina as nossas trevas (4º domingo) e o único Senhor da Vida que nos liberta da prisão da morte (5º domingo). Este percurso culmina na Páscoa, celebração da vitória da cruz e experiência insuperável da presença do Ressuscitado.
Quero convidar todos os cristãos da diocese a aproveitarem este tempo da Quaresma para caminhar ao encontro de Cristo ou a deixar-se encontrar por Ele, para redescobrirem o seu verdadeiro rosto no Crucificado-Ressuscitado.
Viver uma Quaresma autenticamente cristã ajudará cada um a redescobrir a sua identidade batismal e o ideal de santidade que ela comporta. Nesse sentido, os exercícios que a tradição da Igreja propõe para este tempo, como a oração mais intensa, um jejum significativo e uma caridade mais efetiva, favorecem a santificação do crente. Estas práticas, inspiradas na sabedoria do Evangelho, são necessárias para quem vive neste mundo imerso numa febre consumista e úteis para promover um estilo de vida diferente, mais simples, sóbrio, saudável e solidário, logo mais feliz.
A fidelidade ao batismo que nos mergulhou no mistério de Cristo e nos inseriu na comunidade dos crentes, desperta em nós a vocação à santidade. Ela significa que cada um, olhando para a totalidade da sua vida a partir de Cristo e do seu Espírito, a interpreta como uma missão. Um ideal de santidade que, sempre enraizado numa profunda espiritualidade, não pode ignorar as injustiças do mundo, nem pode esquecer o compromisso na defesa dos mais frágeis, porque a vida humana é sempre digna e sagrada, desde o início até ao fim, incluindo «a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono e na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, de novas formas de escravatura e em todas as formas de descarte» (GE, 101).
Para evidenciar o sentido batismal, a quaresma é também um tempo propício para que o cristão valorize o sacramento da reconciliação. Ele constitui o sinal insubstituível, a expressão maior de um Deus que, como tem lembrado o Papa Francisco, «nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia (…). Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que nada possa mais do que a Sua vida que nos impele para diante!» (EG, 3).
A todos (clero e leigos, crianças, jovens e adultos, famílias, e movimentos, comunidades e paróquias) endereço o meu voto e a minha benção para que este tempo seja de renovação de renovação de vida e do compromisso batismal, a partir do encontro com um Cristo pascal. E como aconteceu com os discípulos de Emaús (Lc. 24,33-34), quando O reconhecemos, finalmente percebemos que a fé aquece o coração e faz reverter o caminho para tomarmos parte ativa numa comunidade cristã mais pascal e mais disponível para a missão.
A concluir, recordo a importância do contributo penitencial que cada paróquia deve organizar e o sentido da renúncia quaresmal a que todos são convidados. O seu destino será o da criação de um Fundo Social Diocesano para responder a situações de emergência social ou a outras solicitações de apoio por parte de pessoas, famílias ou instituições em grave necessidade.
Vila Real, 19 de fevereiro de 2020
+António Augusto de Oliveira Azevedo