CATEQUESE PAROQUIAL 2020_2021


AOS CATEQUIZANDOS E PAIS

              OLÁ, CAROS AMIGO(A)S!

              Espero que estejais todos bem.

              Embora estejamos ainda em tempo de Advento, parece que já tudo, à nossa volta, nos fala de Natal. Bem sei como é uma festa muito sentida sobretudo pelos mais novos, entre outros motivos, porque está rodeada de enfeites, luzes, música, prendas, encontros familiares… Tudo isto pode ser importante, mas, sabeis bem, não é tudo nem é o mais importante. É que pode haver festa com muitas luzes, música, prendas e reuniões familiares, mas esquecendo o grande festejado, Aquele que está no centro de toda a festa: Jesus, Que nasceu como um de nós para fazer de nós também filhos de Deus e, por isso, todos irmãos uns dos outros. Sim, Jesus é que é a Luz verdadeira, que ilumina e enche de alegria e encanto a nossa vida, mesmo com as suas fragilidades humanas; Ele é que é a grande “Prenda” ou “Presente” de Deus para nós, Que veio até nós para nos manifestar o grande amor de Deus  por nós e fazer de todos uma grande família de irmãos, apesar de diferentes uns dos outros. Por isso, o Natal deve ser para nós, que somos cristãos, muito mais do que uma simples “festa social” ou “festa de família”.

              Nesta altura do Natal, em que as pessoas em geral, nomeadamente amigos e familiares, procuram tornar-se próximas umas das outras, por meio de um telefonema ou um sms ou um cartão de Boas Festas ou uma visita, também eu quero, como vosso Padre e amigo, fazer-me muito próximo de cada um de vós por meio desta mensagem e da minha oração (o que faço, aliás, todos os dias). E desejar a todos um Natal verdadeiramente cristão, celebrado e vivido em união com Jesus e praticando algum gesto de atenção, solidariedade e partilha fraterna para com alguém que esteja mais só e em maior necessidade. Para isso, não vos esqueçais de colocar, em vossa casa, segundo a vossa imaginação, algum sinal que lembre o natal de Jesus e vos leve a pensar em Jesus: o presépio ou simplesmente a imagem do Menino Jesus. E, diante dele, fazei alguma oração pessoal e em família. É preciso que o Natal de Jesus aconteça em cada família. Também gostaria muito, se as condições o permitirem, de vos convidar a participar na Missa, onde Jesus continua sempre a vir a nós e onde podemos contemplá-lO e adorá-lO, como os pastores de Belém e tantos outros que foram ao Seu encontro e se deixaram encontrar e encantar por Ele.

              Finalmente, nesta situação difícil de saúde pública, devido à pandemia, vamos todos fazer tudo para nos protegermos uns aos outros, cumprindo as normas sanitárias e as restrições quanto a ajuntamentos, a que estamos obrigados. Sem cairmos no pânico. A vida humana é um bem precioso, que Jesus dignificou com o Seu nascimento.

              Do fundo do coração, para vós e toda a vossa família, UM SANTO E FELIZ NATAL!

              Abraço-vos com muito afeto,

O vosso Pároco

09.12.2020


CATEQUESE, UM PROCESSO DE “INICIAÇÃO PERMANENTE” À FÉ E À VIDA CRISTÃ

1. Problemática atual 1.1. Tem-se falado muito de “iniciação cristã” como caminho urgente da Catequese e da Liturgia  em ordem à conversão pessoal a Jesus Cristo e ao Evangelho. É uma preocupação de toda a Igreja e também da Igreja em Portugal. Para esta problemática tem alertado o Papa Bento XVI: “À vista da maré crescente de cristãos não praticantes nas vossas dioceses talvez valha a pena verificardes a eficácia dos percursos de iniciação cristã actuais…” (Aos bispos Portugueses, em Visita “ad Limina”, 10/11/2007). E ainda: “Que Deus vos pague, derramando em abundância o E. Santo sobre vós e as vossas dioceses, afim de que num só coração e numa só alma, possais levar a cabo o empenho pastoral que vos propusestes: oferecer a todos os fiéis uma iniciação cristã exigente e atractiva, comunicadora da integridade da fé e da espiritualidade radicada no Evangelho, formadora de agentes livres no meio da vida pública” (Fátima, 13/05/2010).   1.2. Esta insistência numa “catequese de iniciação permanente à fé e à vida cristã” (missionária) resulta daquilo que facilmente se pode constatar: a Igreja que somos tem no seu seio mais pagãos baptizados (“cristãos faz-de-conta”) do que cristãos convertidos. Ora o verdadeiro crente é um convertido a Jesus Cristo, por Ele apaixonado como Paulo, com a preocupação diária de orientar toda a sua vida pela de Jesus; vive a sua fé no seio de uma comunidade crente e dá testemunho dela com a sua vida no seio da sociedade. Estamos hoje perante uma realidade grave e interpeladora de descrença e indiferença de muitos baptizados, que se manifesta de várias maneiras:

  • A prática dominical tem vindo a diminuir cada vez mais (caso das crianças, jovens e adultos abaixo dos 40 anos).
  • Diminui o número de baptizados, não só porque há menos nascimentos mas também por opção dos pais. Há muitas crianças a frequentar a catequese sem estarem baptizadas.
  • Os jovens abandonam a Igreja sobretudo a partir da Confirmação.
  • É menor o número de casamentos pela Igreja e generalizam-se os casos das “uniões de facto” como algo de perfeitamente normal: “E que mal tem isso?!… Porquê não hão-de ser aceites para padrinhos?!”.
  • Aumentam os divórcios, cada vez mais facilitados.
  • Famílias que continuam na Igreja aceitam tudo o que se refere ao casamento e ao divórcio, cada vez com mais naturalidade: “Agora é assim…”.
  • A permissividade sexual é atitude frequente entre jovens e adultos, com a concordância das próprias famílias.
  • A diminuição das vocações) sacerdotais, missionárias, religiosas laicais).
  • Há mais cristãos hoje que desejam o anonimato e, quando frequentam, optam por fazê-lo onde não são conhecidos, não assumindo qualquer compromisso.
  • A ausência de testemunho e de acção nas estruturas profanas, sociais, profissionais, políticas, por parte de muitos cristãos.
  • O divórcio entre a fé e a cultura (leis, mass-media, divertimentos…): desprezo pelos ensinamentos da Igreja.

1.3. A leitura da realidade mostra-nos também muitos aspectos positivos:

  • As assembleias litúrgicas renovaram-se e tornaram-se mais participadas.
  • As catequeses paroquiais, em grande maioria, seguem o programa de catequese de dez anos e um grande número continua até ao crisma
  • Aumentou, nas paróquias, o número de agentes pastorais (…).
  • A formação bíblica alargou-se em muitas paróquias.
  • Há um maior esforço de preparação para os Sacramentos (…)
  • O número de voluntários aumentou (…)
  • Há um maior sentido de corresponsabilidade eclesial

2. Necessidade urgente de uma Catequese de “Iniciação permanente à fé” (até à sua maturidade, “até à medida de Cristo”) 2.1. A educação da fé não se orienta para uma aprendizagem de doutrina, mas para um compromisso apaixonado e livre pela Pessoa de Jesus Cristo. A iniciação cristã conduz a este objectivo mediante uma pedagogia adequada de um crescimento progressivo na fé. A Igreja, durante séculos, deixou de falar e de praticar a iniciação cristã, pondo de lado o catecumenado que fora o caminho de conversão de adultos que não vinham de famílias cristãs. Os sacramentos da iniciação cristã davam-se a todos sem preparação especial… Assim se foram enchendo as comunidades de pagãos baptizados…   2.2. Jesus Cristo é o primeiro mestre da iniciação cristã, feita com todo o rigor e exigência, em favor dos seus discípulos que escolhera para serem seus Apóstolos e continuadores da realização do projecto salvífico do Pai: seduziu-os, escolheu-os pelo seu nome, ficaram a viver com Ele, foi-lhes dando a conhecer a razão de ser da sua vida e da sua ligação ao Pai, explicou-lhes as parábolas, fez-lhes ensinamentos só para eles, ensinou-os a rezar, confrontou-os com os seus defeitos e ambições humanas, fez-lhes a revisão de vida e apontou-lhes caminhos novos de vida e de acção, corrigiu-os, mandou-os dois a dois em missão, confiados no poder de Deus, abriu-lhes o coração, deu-lhes a comer o Seu Corpo e a beber o Seu Sangue, não os pupou aos sofrimentos, aceitou a sua fraqueza e o seu pecado, fê-los testemunhas privilegiadas da Ressurreição, viveu com eles entre a Páscoa e a Ascensão, garantiu-lhes a Sua presença até ao fim dos séculos, enviou-lhes o Espírito Santo… Assim partiram sem medo e dispostos a dar a vida por Jesus ao serviço do Evangelho. Eles foram iniciados na oração, no serviço, na capacidade de aceitarem as dificuldades…, mas sobretudo em descobrirem em Jesus, por experiência directa, a força determinante do amor, em perceberem que o segredo da vida está na união com o Pai e na aceitação da Sua vontade e na fidelidade ao Espírito Santo. Paulo, o grande apaixonado de Jesus, dá-nos conta do seu itinerário espiritual de identificação com Ele…

  • A iniciação tem, pois, como objectivo levar à conversão pessoal a Jesus Cristo, com todas as consequências que esta conversão comporta.

O modelo de itinerário tem como pano de fundo a pedagogia de Jesus Cristo com os Seus Apóstolos ao longo dos três anos que os levaram à identificação com a Sua Pessoa, à vivência da Sua Mensagem e ao compromisso com a Sua Missão. Este itinerário corresponde a uma metodologia catecumenal recomendada hoje pela Igreja. Catecumenado e iniciação cristã são sinónimos.. Enquanto se pensar em catequese para os sacramentos tradicionais e não catequese para uma vida cristã autêntica, em que os sacramentos surgem no momento próprio como acontecimentos pascais, não sairemos de um esquema escolar dominante, em que os sacramentos surgem como um direito justificado pelos anos de frequência e não pela vivência e testemunho de fé na vida. A Igreja recomenda que a catequese paroquial siga a pedagogia catecumenal, o que não se verifica. Após dez anos de catequese e, por vezes, mais algum tempo prolongado de preparação para o Crisma, deparamos com jovens crismandos que não têm hábitos de oração, não participam regularmente na Eucaristia dominical, não se integraram na comunidade cristã cristã, não têm qualquer prática de apostolado, não entenderam que a fé toca todos os aspectos da sua vida, não pensam o seu futuro e a sua vocação.. Não tiveram iniciação à Palavra, à oração, aos sacramentos, à vida em comunidade, ao apostolado Quando assim acontece, não se pode esperar mais que o abandono da Igreja (como já acontecia após a 1.ª Comunhão e Profissão de Fé). Na base de tudo isto não estará também a deficiente preparação (e vivência, “conversão” da própria mentalidade) dos catequistas e o facto de muitos párocos não terem considerado como urgente e necessária a pastoral do catecumenado e da iniciação cristã… O compromisso cristão e a alegria da fé não são fruto de um diploma alcançado, mas de uma contínua conversão a Jesus Cristo.

  • Frente a esta problemática, podemos afirmar que a fraqueza da Igreja está relacionada com uma deficiente e desadequada educação da fé.

A fraqueza da fé traz consigo debilidade do testemunho pessoal e comunitário, a pouca ou nenhuma alegria d ser cristão e amado de Deus e, consequentemente, a pobreza do vigor apostólico e missionário e a frieza de muitas assembleias litúrgicas.  


3. A Catequese ao serviço da iniciação cristã e da formação permanente da fé: Ver Diretório Geral da Catequese, I Parte, Cap. II, nº 63-72

  1. Algumas questões:
  • Estará a nossa catequese a ser um processo de “iniciação” permanente à fé e à vida cristã ou, antes, um “processo de conclusão”?
  • Estará a nossa catequese a ser:
  • uma experiência de fé, vivenciada (primeiro pelo catequista)?
  • Um ensinamento para a vida?
  • Uma experiência comunitária, favorecendo a consciência de pertença a uma comunidade (conviver, concelebrar, colaborar, partilhar: 4 verbos geradores do sentido de pertença)?

P. José Guerra Banha


Era uma vez uma família cristã…

“Em casa, não me ensinaram a piedade de forma expressiva. Apenas fazíamos a oração da noite, recitando-a em conjunto. Disto, lembro-me e lembrar-me-ei até os meus olhos se fecharem. A minha irmã Helena recitava as orações, longas para as crianças, quinze minutos. Ela acelerava, gaguejava, apanhava atalhos até que meu pai lhe dizia em dialeto: “répoigne” (recomeça!). Foi então que aprendi, naquele momento que tinha que conversar com Deus devagar e com seriedade e ainda com bondade paciente. O que me comove, hoje, é recordar a atitude de meu pai. Ele que estava sempre cansado do seu trabalho no campo ou do transporte de madeira, ele que se mostrava cansado no fim do trabalho, eis que, após cada refeição da noite, ajoelhava-se, os cotovelos apoiados numa cadeira, a cabeça entre as mãos, sem um olhar para os seus filhos, sem se mover, sem tossir, sem se impacientar. E eu pensava: “O meu pai que é tão forte, que dirige a sua casa e os seus dois grandes bois, orgulhosos diante dos golpes do destino e tão pouco tímido frente ao presidente da câmara, aos ricos e aos astuciosos, eis que se torna pequeno diante de Deus. Deus deve, realmente, ser alguém que lhe é muito familiar, pois atreve-se a falar-lhe com as suas roupas de trabalho.” Em relação à minha Mãe nunca a vi de joelhos. Muito cansada sentava-se no meio da sala, com o filho mais novo nos braços, o vestido preto até aos tornozelos, os seus belos cabelos castanhos sobre o seu pescoço e todos os seus filhos ao redor e encostados a ela. Seguia com os lábios as orações, duma ponta a outra, pois não queria perder nem uma migalha, dizendo-as para ela mesma. O mais curioso é que não parava de nos olhar, um de cada vez. Um olhar mais longo para o mais pequeno. Olhava-nos mas nunca dizia nada. Nem mesmo quando os mais pequenos se mexiam ou sussurravam, nem mesmo quando um trovão bateu na casa, nem mesmo quando o gato entornava uma panela. E eu pensava: “Deus é verdadeiramente muito bom para que possamos falar-lhe com uma criança nos braços e com o avental de trabalho. Verdadeiramente, Deus só pode ser alguém muito importante pois nem o gato ou o trovão desviam a atenção”. As mãos do meu pai e os lábios da minha mãe ensinaram-me mais a respeito de Deus do que o catecismo.

(Aimé DUVAL, na revista Esperança “Foyer Notre-Dame”, Janeiro 1976, p. 69-70)