Igreja da Sagrada Família de Chaves
Uma igreja moderna, construída entre 2004 e 2008, na zona norte da cidade. Aberta ao culto e às atividades da Paróquia da Sagrada Família, freguesia de Santa Cruz-Trindade, a 12/10/2008, embora a celebração festiva da Dedicação do altar e da igreja só tenha ocorrido a 22/04/2018, no 25.º aniversário da criação canónica da paróquia.
De acordo com as orientações atuais da Igreja, caracteriza-se pela sua simplicidade e sobriedade, pela sua funcionalidade litúrgica, e multiplicidade de espaços (igreja-lugar da celebração para uns 600 lugares, capela do Santíssimo como espaço de recolhimento e oração pessoal, sacristia e cartório paroquial, 2 salas, casa mortuária com duas capelas funerárias e outros espaços anexos; na cripta: salão-auditório com uns 250 lugares sentados e palco, foyer-bar, copa, sala polivalente, sanitários, salas de catequese e de reuniões). Além disso, exprime a imagem da Igreja-mistério de Comunhão: assembleia celebrante próxima e em volta do altar da Eucaristia.
De realçar: a qualidade dos vitrais (pintura do Prof. Dr. Francisco Laranjo e executados em Milão-Itália), cujas cores, com o rodar do sol, são refletidas nas paredes interiores e no chão; as esculturas da Cruz/Cristo Ressuscitado, do candelabro junto do altar e do tocheiro para o Círio Pascal (do escultor Bruno Marques); os corredores de transição desde a rua até à(s) entrada(s) na igreja.
Projeto (1995): Arq. Agostinho Ricca (Porto).
Assinatura do Contrato com a DGAL (1.ª fase): 17/06/2001
Assinatura do Contrato com a DGAL (2.ª fase): 17/11/2003
Abertura das propostas dos 11 empreiteiros concorrentes: 17/02/2004
Lançamento da 1.ª Pedra: 01/03/2004
Início das obras: 31/05/2004
Abertura da igreja: 12/10/2008
Características:
- Área de implantação: 1 077 m2
- Área de construção: 1 958 m2
- Área da Cripta: 807 m2
- Área da igreja e anexos: 1 151 m2
- Área do terreno (Lote): 4 271,40 m2
- Estimativa Orçamental: 205 000 contos
- Matérias primas: betão, mármore, madeira, vidro
- Um projeto de grande sobriedade, elaborado segundo as diretivas do Concílio Vaticano II e a forma de celebrar o mistério de Cristo.
- Pisos: 2
- 1.º Piso (Cave): salão-auditório, sala de apoio ao palco, 5 salas de Catequese e reuniões, sala-biblioteca, sala-museu/exposições, foyer-bar, copa/cozinha, arrumos, sanitários, entrada (sem barreiras), alpendre, espaços para a caldeira de aquecimento e sistema de ventilação.
-2.º Piso (igreja): lugar da assembleia, capela do Santíssimo, sacristia, cartório paroquial, sala-acolhimento, sala-arranjos florais, arrumos, 2 capelas mortuárias com sala de estar e alpendre exterior, sanitários.
- Zonas envolventes: Torre sineira, escadaria principal, pavimentos com mosaicos e espaços relvados e arborizados.
Os vitrais da Igreja da Sagrada Família de Chaves
Uma memória descritiva dos vitrais.
Os vitrais da Igreja da Sagrada Família de Chaves procuram construir um ritmo e desenvolver um olhar propício à reflexão e à oração num templo construído de raiz onde o pensamento da pintura, de luz e de cor, em suma do desenho, fosse concorrente com esses propósitos: o da arquitectura.
Assim, sem metáforas ou ilustrações, despojadamente a verdade, a da luz pela cor transparente do vidro fundido e organizado em ritmos que a estrutura do chumbo comporta, vai fazer descobrir, lentamente no visitante ou nos fiéis que ao templo se dirigem, momentos de descoberta e de encantamento pela matéria.
Mas, por paradoxal que pareça, é pela matéria que nos confrontamos com o espírito. E é o espírito que nos move!
Milhares de pequenos vidros procuram levar-nos da terra ao céu como que dirigidos em movimentos ascensionais que dominam todas as janelas ou aberturas verticais do templo. É como um turbilhão de tensões que nos envolve e nos projecta nessa aventura de olharmos para o alto com os olhos incrédulos a percorrerem o caminho, guiados tão só pela estrutura que nos suporta o olhar que é o desenho que imaginamos à medida de cada um!
O Concílio Vaticano Segundo propunha uma Igreja mais aberta ao mundo. O vidro que, mais transparente é, deixa que o mundo entre no templo onde a igreja se deve rever. É a verdade do mundo de que não gostamos, quando as coisas de fora interferem nas de dentro e não nos satisfazem! Um templo e todo o desenho que a cor comporta simbólica e estruturalmente deve ser um espaço onde toda a medida seja uma exigência de rigor.
Procurei que cada vitral individual fosse uma peça essencial para esse preciso lugar. Pelo sentido e pelo discurso. E que no seu conjunto de relações e interferências múltiplas se interligassem. Fossem todos eles um discurso a uma só voz.
Se os vitrais de todo o corpo da igreja têm um sentido cosmológico, os da entrada, pela dissonância cromática quente evocam símbolos bem mais pedagógicos de uma leitura bíblica elementar. O peixe, símbolo identitário dos primeiros cristãos, o pão da Eucaristia, o Espírito Santo.
Depois poderemos olhar o vitral como peça respeitante ao lugar para onde foi desenhada. Assim, no que respeita à Capela do Santíssimo, poderemos constatar que três chamas ou línguas de fogo aparecem em movimento perpétuo sobre a janela da esquerda, como aquelas que desceram sobre os Apóstolos! Afinal, o movimento contínuo ascensional e infinito é a vida! E eu assim tentei dar-lhe corpo.
Este é um lugar de razão, mas muito mais de sentido de fé e de sensibilidade.
O vitral é o modo como a luz nos faz ver o mundo de dentro para fora e de como estando no templo, podemos estar de bem connosco e com o nosso espírito totalmente livre para ver Deus.
Francisco Laranjo, Maio de 2008